21 de dezembro de 2008


Era um homem pacífico.
Acordava todas a manhãs e só pensava chegar a casa à noite, ver televisão e dormir. Nada de dinheiro ou desavenças com vizinhos do lado. O dinheiro (e sucedâneos) e vizinhos odiados só lhe tiravam o sono. A verdade é que este homem não era homem. Era um bicho, daqueles bichos que vemos nas mobílias e que quando nos sentem fogem a sete pés. Ele era assim. Fugia de nós, fugia de tudo o que o ligasse a nós. Ele constituía uma civilização à parte. Mas pagava contas, usava-se do nosso metro, comia e bebia da nossa comida e bebida, a televisão era produzida por nós. Era um estrangeiro (Meursault?) que se habituara a viver como nós. Havia uma coexistência pacífica (até porque ele era um homem pacífico) entre nós. Havia um choque de civilizações.
E digo que "Era um homem pacífico" porque já não é. Agora trabalha dez horas por dia, embirra com tudo e todos, (quer matar um vizinho e tudo!),

é um de nós.


1 comentário:

Pedro Rodrigues disse...

Gostei bastante... Principalmente da imensa consciência do tal bicho =) O ser humano verdadeiro é aquele que tem a ousadia de se auto criticar. Portanto, esse bicho e, apesar de embirrar assim tanto e até ter dotes psicopatas até então desconhecidos, constitui a meu ver, uma imagem próxima daquilo que deveria ser uma pessoa. Parabéns ;)