27 de maio de 2009

A Dança

Os ponteiros corriam breves.
as horas passavam,
eram aranhas que teciam teias
e enredavam o tempo
em matéria contável.

Os relógios diluem a vida,
solventes atirados a um quadro realista
(depois temos Mondrian)

as pessoas dançam,
o tique-taque pauta elipses de tango.
As saias rodaram, rodam
-tique-taque-
rodarão.
a música mecânica paira no ar ditoso.

Rodam as saias e as raparigas rodam-nas.
Titeriteiras, mexem em fios de algodão,
controlam o tempo das saias.
Nas costas das raparigas
fios invisíveis movem-se ao som da música.

Tudo é dança quando em cima estão ponteiros,
a vida é um trecho de tango
quando ouvimos por detrás do violino,
do piano,
do bandonéon,
o tiquetaquear do metrónomo absoluto.

Os dançarinos moviam-se presos ao chão.
livres naquele espaço
eram pêndulos sincronizados ao segundo,
que os destruía.



1 comentário:

Anita Mendes disse...

e como se os detalhes tomassem conta do poema ,personificando-se em personagens .eles não traem a consciência mas sim o espaço e o tempo.
belo poema, Adriano.
beijos pra ti, Anita.