24 de novembro de 2008

Excerto da vida de um poeta 'standard'

'Leio um poema e quero parar de escrever. É tudo uma grande farsa. É tudo um mito sofrer como se sofre num poema, num coração. Fôssemos todos santos e continuava a ler poemas. Mas não. Poemas já não leio. E depois estão bem escritos!

É como se eu mentisse de uma forma bonita/ e o lesado aplaudisse/chocado, lacrimejante,/ depois de me ouvir. Há na poesia um tanto de rebeldia/ por só se usar parte de uma página/ e um muito de egocentrismo/ por se pensar que os outros se preocupam com o estado do nosso coração,/pelos nossos sentimentos.

Por isso desisti de ser poeta. Desisti de falar de ti. Ou da outra. Ou de alguém que não conheço sequer. Desisti de estar a pensar em rimas internas, em aliterações que acentuem uma ideia. Desisti do poema. Já não quero ser poeta! Já não quero acordar e ter de apontar num bloco sujo do dia-a-dia o meu primeiro pensamento. De me deitar e apontar uma última frase que inicie uma estrofe. Desisti disso tudo, desse nada que é a poesia.'


A poesia-cebola está démodé

4 comentários:

Pedro Rodrigues disse...

Devo confessar que há muita verdade no que referes. De facto aquilo que escrevemos sobre os nossos sentimentos... Nada mais é senão de nós mesmos... A verdade é que cada vez mais as pessoas andam preocupadas com os seus problemas, de tal forma, que quase não têm tempo de atentar nos problemas dos demais... Ignorando, muitas vezes, aquilo que poderia conter a chave para alguns dos seus problemas... Porque a poesia é um chorar pedagógico da alma... Há muito nela justamente por ela representar um pouco de todos nós. Eu não deixo de escrever poesia, essencialmente por considerar que mesmo que aquilo que escreva seja apenas um naco figurativo de mim, servir-me-à de muito em momentos futuros porque em muito do que escrevo estão dados memoriais que, uma vez não escritos se poderiam perder da minha consciência. Mas gostei, apreciei o modo como fizeste passar a tua ideia sobre poesia, e o porquê de não continuares a apostar nela...

Unknown disse...

gostei mesmo do poema:)


um abraço

Ed
(casadospoetas.blogs.sapo.pt)

Anónimo disse...

realmente são essas palavras que se aplicam nas pessoas que escrevem poemas.Infelizmente hoje as pesssoas escrevem por escrever e não sabem o que escrevem e eu gosto de escrever e entendo o que escrevo.

C.

Adriano Narciso disse...

tens toda a razão