30 de janeiro de 2009

Hipocondria

Ar sem garganta.
Nariz inerte, deserto.

Dissolvemos o açúcar em água quente como o
Crematório dissolve corpos.
Pessoas-vapor voam pela chaminé.
sem asas voam sem serem anjos
(porque dos anjos nada se sabe; eunucos não falam muito).
E a inércia é detida pelo acto da ebulição,
pelo osso que agora é pó, pela boca que é tudo menos palavra,
que é ar,
que é breu,
que é chaminé,
que é voo. Que não é material humano.
Porque homem não voa senão na morte.
E já não sendo homem é natural,
sem roupa,
sem boca,
sem nada senão o pó de uma sala que se limpa e se esquece.
Assim somos, matéria com validade para a lembrança.
Souvenir que começa no falo e acaba na chaminé fálica.
Somos sacos que carregam tumores como quem carrega frutas em sacos.
Tísicos seres plásticos que crescem e se transformam em ar de chaminé.

2 comentários:

Anónimo disse...

na chaminé, o pássaro quebrou as asas e agora alimenta-se das cinzas passadas e
futuras fontes de insistente existência.

Pedro Rodrigues disse...

Incrível não é? Todos sermos um tanto de nada... Continua!
Abraço