4 de fevereiro de 2009

Simbiose

Chego e entro,
O café e a empregada jazem no mesmo sítio;
Mudos.
Suplicam por mim,
enchem as pupilas nauseabundas de luz
ao verem-me ser cliente.

Sento-me no lugar da cadeira;
não se incomoda e dá-me as boas vindas
de quatro.

Cheiro o ar e sou pulmão
do café, respiro por ele.
depuro

Chega a mulher, arrasta-se, exaspera,
reza pelo pedido com olhos moles
que parecem beatas no chão.
Consumida.
:
-um café e um pastel (s.f.f.)

(traz-me tudo aquilo como se traz uma hóstia,
como quem crê na salvação através da comida)

Bebo, como, leio Dostoievski
e a mulher arrota por mim. Alegra-se por ser miserável.
Se lhe pedisse, vomitava.
:
-A conta se faz favor.
Pago, saio e sou metástase.

4 comentários:

Anónimo disse...

daqueles lugares que nos afetam como on the road em dias de chuva

Adriano Narciso disse...

nem mais!

Pedro Rodrigues disse...

Fantástico... Quantas vezes não sentimos nós o mesmo? Tu compuseste-o... As palavras "vomitadas" pelos olhos, cansados do desgosto de descortinar a previsibilidade dos momentos... Momentos?... Abraço

Sofia B disse...

Não me canso de gostar de lêr o que tu escreves,este em particular ,obrigado adriano e continua ...bjs